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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tudo na vida é um teste

Quanto mais vivo neste mundo de adultos, mais me convenço que deviamos receber um livro de instruções aos 18 anos.
Ou pelo menos que nos convocassem a todos, estilo inspecção obrigatória para a tropa, para um seminário sobre "Conciliar a vida pessoal com tudo o resto".

Aproxima-se um campeonato do mundo, e este ano decidi voltar a treinar a sério. Mas treinar a sério na verdade quer dizer treinar em todos os pedacinhos que tenho livres, que no fundo não me permitem fazer mais que 100 flechas por dia, o que me deixa frustrada. Para ajudar, há 3 semanas que está um vento estúpido, e hoje começou a chover.

O meu emprego obriga-me a acompanhar todas as obras, e é óbvio que Agosto é o mês ideal para as fazer, menos gente, menos confusão, mais acessos, mais espaço. Com isto, quer dizer que não vou poder tirar os dias de férias que queria ter para treinar e descansar antes da viagem.
Mesmo quando não estou a acompanhar obras, o telefone não pára, não tenho tempo para o expediente normal, os papéis acumulam-se na secretária, assuntos urgentes que passam a ser secundários, a urgência vai sendo atribuída conforme as datas limite.

A minha casa parece um campo de batalha, já jantamos no quintal porque enchi as mesas de tralhas do tiro, papéis que não tenho tempo para tratar, assuntos vários que ficam para depois, projectos de bricolage adiados. Se não fosse o Homem-que-não-assina a assegurar as funções básicas de roupa, louça e comida acho que teria de ir viver com a minha mãe outra vez para sobreviver até ir para a Coreia.

Quero estar em casa, sinto que sou ingrata com o HQNA, deixo-o sozinho porque vou treinar, não vamos a lado nenhum porque tenho de tratar de material, não o ajudo na empresa porque tenho a cabeça em papa com o meu próprio trabalho ou simplesmente estou cansada demais. A ajudar a isto, o Lucas está a ficar pior, o que só me faz querer estar mais em casa, para o acompanhar. Para já nem falar da pouca atenção que dou à família.

Estou a atravessar uma crise temporal, preciso que os meus dias tenham 36 ou 48 horas. Parece que tudo e todos estão a fazer de propósito para me dificultar a vida. Ponho as culpas no trabalho, no carro, nos bancos, nas empresas de serviços e até no S. Pedro, mas a verdade é que preciso de férias e não as vou ter, e só esse facto deixa-me desorientada, fazendo com que aproveite mal o pouco tempo livre que tenho.
Nada disto me foi explicado quando me tornei adulta. Ou talvez tenha sido, ao longo de muitos anos, mas não prestei atenção...ninguem presta atenção quando se tem todo o tempo do mundo!

Mas neste mar de confusão há aspectos positivos e é a esses que me agarro todos os dias. A circunstância de voltar a treinar fez-me reencontrar amizades muito importantes, momentos de felicidade e cumplicidade entre amigos que me fazem esquecer todas as dificuldades e pensar que vou ser capaz. Também o facto de ter um namorado que aguenta todas estas ausências com um sorriso e frases como "Devias ficar mais tempo a treinar" ou "Porque não vais treinar também no domingo à tarde?" me faz sentir que tenho o Homem-Que-Mais-Gosta-De-Mim-No-Mundo (o meu pai não conta) e que de facto tenho de organizar-me para treinar bem e não o desapontar.

Apesar de não ser religiosa nem dada ao espiritual, dou por mim a pensar se isto tudo não será apenas um teste, composto por alguma entidade superior, para determinar qual a minha capacidade de sobrevivência ao caos, numa qualquer escala universal de resistência humana. Não deixa de ser verdade a questão do teste, porque acredito que todas as dificuldades são de facto uma oportunidade para mostrarmos do que somos feitos.

3 comentários:

SS disse...

Não te quero desiludir mas eu também não recebi livro de instruções aos 18 anos.
No entanto, e como sou mais cotinha posso assegurar-te que tudo se concilia e que o tempo é bom conselheiro.
Fecha os olhos, repira fundo e vais ver que quando voltares a abri-los tudo te vai parecer mais fácil.

Afonso Loureiro disse...

Tem dias em que os 15 anos parecem a idade perfeita, em que começamos a usar a cabecinha, mas ainda não precisamos de nos preocupar com a vida de adulto.

Se calhar, tens de começar a escrever tu o manual, para as gerações vindouras.

Mas não devias estar a treinar, em vez de escrever no blog?

C. disse...

Vais ver que no fim, compensa, se não pelos outros, por ti própria.