Aviso já que este não é um post simpático. É algo que me vai aqui dentro já há umas semanas, antes mesmo de ir de "férias" para a Coreia!
Dedicado a todos aqueles que já se referiram à nossa participação na Coreia como "férias", aqui fica a minha opinião, que penso ser a mesma de todos os atletas que lá estiveram.
Vocês acham sinceramente que todos nós gastámos todos os minutinhos disponíveis das nossas vidas nos passados meses, sacrificando amigos, família e outras actividades, até o trabalho, a treinar para quê? Se fossemos de férias, não era preciso treinar, bastava atirar por aí umas flechas, pagar 3000€ e pimba, 15 dias em Ulsan-Coreia, a curtir! Mas para gastar isso, sinceramente preferia ir com quem eu escolhesse e para uma cidade mais interessante.
Alguém, para além de quem já o fez, faz sequer ideia do que custa treinar um dia inteiro? Ou sair do trabalho completamente de rastos, a só apetecer ir para casa, mas ir pegar no arco e fazer as 200 flechas que estão no plano, porque a consciência assim manda? Porque queremos dar o nosso melhor quando estivermos entre os melhores?
Mesmo depois de acabar a nossa prestação, naqueles dias que nos restam, acham mesmo que estamos de férias? Com horários e transportes super-limitados, que basicamente só nos permitem ir ver as finais, aproveitamos o tempo que nos resta para aprender qualquer coisa com quem sabe, mas no íntimo todos nós já só pensamos em voltar para casa, queremos vir treinar, mais, melhor, porque na verdade não queremos este tempo livre, queremos ser nós a estar lá em baixo, nas finais.
É óbvio que todas as fotos são de grande farra, há que aproveitar todos os momentos, esquecer que estamos longe, concentrar as forças em estar bem disposto e confiante. Mas isso não quer dizer FÉRIAS!
Ninguém tirou fotos às pessoas que falavam com a família na net ou ao telefone com lágrimas nos olhos, ninguém tirou fotos aos que ficavam a olhar para o horizonte com olhar perdido, ninguem tirou fotos a quem chorou de frustração por não atingir os objectivos ou por não conseguir concentrar-se no meio dos nervos, porque esses momentos não se partilham com o público, só com quem se interessa.
Melhor ainda que tudo isto, é quem não se contenta em dizer que fomos de férias e ainda acrescenta: "não foram lá fazer nada!". Já alguém parou para pensar, ou até para nos perguntar o que nos faltou, o que podia ter sido melhor, o que sentimos? A mim não!