O trafulha é o comercial por excelência, quer venda produtos, ideias ou apenas a própria imagem, fá-lo com o à-vontade de quem já vira frangos há mais de uma década, iludindo "clientes" de inúmeras classes, culturas ou níveis de educação.
Não é facilmente detectado à primeira vista, sendo necessários largos minutos de conversa para decifrar qual o nível de trafulhice do indivíduo, tal é a mestria com que nos envolve na sua simpatia e eloquência.
Nunca vem demasiado bem vestido, mas sim com um "look" desportivo elegante, para dar aquele toque de amigalhaço porreiro para beber umas jolas e comer caracóis, e toda a gente sabe que esses tipos têm sempre ideias de negócios fenomenais, não é?
Se possível, tenta começar as reuniões com assuntos triviais, futebol, pesca ou mesmo o tempo, para pôr os clientes à vontade e mostrar que tambem é humano.
Muitos há que se pensam trafulhas mas após algumas recusas por parte dos seus interlocutores, depressa são desmascarados e partem frequentemente para a ignorância, tentanto o ultimo reduto já num registo de voz mais agudo ou mais alto.
O verdadeiro trafulha nunca se exalta, por mais enfurecido que esteja permanece calmo, sereno e encontra a melhor forma de mudar o rumo à conversa mantendo a harmonia, o sorriso e o objectivo.
É possível vender elefantes a quem tem espaço apenas para ratos, desde que se acompanhe as investidas do cliente com piadas ou referências a desastres actuais, como um Tsunami, um terramoto em Itália ou umas cheias em Caxias.
O cliente fica de imediato rendido à lembrança das desgraças ou a rir da piadola e o trafulha tem assim tempo de construir nova ponte para o assunto em causa. Manobras de diversão nunca faltam, há é que manter os clientes em constante turbilhão de pensamentos, para que não possam amadurecer nenhum.
As ideias mirabolantes nunca são apresentadas com um olhar esgazeado do tipo "isto é do caraças", mas sim com um semblante sério, se possível fazendo alusão a 32 novas legislações que o exigem e conhece já vários clientes enleados nas malhas da justiça por não o terem feito. O medo da autoridade é sempre dos ultimos recursos utilizados, mas muito eficaz.
É necessária muita experiência e ter conhecido já muitos trafulhas para conseguir reconhecer os melhores.
Hoje conheci mais um, e passado 20 minutos de conversa atingiu quase o nível máximo no meu "Top Trafulha". Atenção que este é um top que mede a habilidade para a trafulhice, conforme o que descrevi aqui, ou seja, é qualitativo. Não mede apenas a quantidade de patranhas utilizadas, mas sim o modo como são empregues.
Para estes casos especiais costumo atribuir um prémio, uma espécie de Óscar, só ainda não tenho estatueta. Chamo-lhe "The Ultimate Trafulha" e este é um título que deve ser dito como o anuncio de um filme de acção por estrear, com voz grave e pausada.
"Um cliente...um produto...e só um homem o pode vender...
THE ULTIMATE TRAFULHA!
(brevemente numa reunião perto de si)"