Eram 17:30, eu dirigia-me para a sala do segurança, a maldizer-me por ter arranjado um trabalho às 16:50 que me ía fazer sair tarde.
Ao passar pelas cancelas da entrada, vejo um "objecto" no meio da estrada, mesmo a jeito de lhe passar um carro por cima. O "objecto" era do tamanho de um telemóvel, mas ao aproximar-me vi que tinha 4 patas e uma cabecinha.
O que raio faz uma tartaruga na entrada de uma fábrica? Terá falta de vista? Ou foi S. Martinho que resolveu fazer uma aparição em forma de réptil?
O lago que está na entrada não tem condições de alojar seres vivos, aquilo nem se pode chamar água, é uma mistela de algas castanhas com poeira dos camiões que passam.
As casas mais próximas estão a 200m dali, seja de onde for, a tartaruga fartou-se de andar.
Chamei-lhe S. Martinho, está de momento a repousar num alguidar com uma ilha improvisada, na minha cozinha. Já lhe arranjei dono, entrego-a na sexta feira. Parece que a filha do dono lhe vai chamar Rafaela, o que é engraçado, porque a minha primeira tartaruga chamava-se Rafael.
Agradeço a S. Martinho, que me lembrou numa tarde fria de trabalho das coisas que nos aquecem por dentro:
- ajudar um animal perdido;
- ver pessoas inesperadas fazer festas na carapaça de uma tartaruga com ternura;
- assustar os colegas de gabinete com um bicho no teclado;
- dizer "Olha! Vou levar uma surpresa para casa, que achei aqui na fábrica!" e ouvir "O quê? um brasileiro?" e rir até ter um ataque de tosse;
Enfim...foi dos melhores dias de S. Martinho que me lembro, apesar da chuva, do frio e da gripe.