É engraçado como a gravidez (e respectiva consequência) é um estado que anula a condição universal de privacidade.
Contando que à partida todos temos direito a essa condição, e que cada um depois a usa a seu belo prazer com mais ou menos acentuação e afinco, é no entanto certo que a partir do momento em que se assume o estado grávida, a taxa de privacidade pessoal baixa para cerca de zero. E se houver um marido, a privacidade do casal também leva um corte, com o desgraçado a dar por si em conversas sobre dilatação, maminhas e afins da sua mais que tudo, o que imagino ser pelo menos estranho.
Durante a gravidez foram inúmeras as situações onde dei por mim a tentar esquivar-me de conversas sobre o meu peito, a minha barriga ou mais abaixo ainda, com pessoas de presença na minha vida ao nível do "bom dia" e "boa tarde". Um não parar de perguntas e comentários que dá a ideia que a partir do momento em que estamos a contribuir para a população, o nosso corpo passa a ser do domínio público.
Eu tinha decidido à partida não apresentar aqui as minhas queixas, dúvidas e revoltas de grávida durante o processo (que não eram poucas já que o meu tamanho final já me dava direito a ter o meu próprio satélite a rodar à volta), à parte uma ou outra piadola, para não vos aborrecer de morte e porque há inúmeros blogs sobre isso, mas houve uma situação hilariante esta semana, que ilustra muito bem o que quero dizer.
Estando eu alegremente a regar o quintal, passa a minha vizinha da frente (pessoa ao nível do "bom dia, tá boazinha? nunca mais tapam aqui este buraco na estrada, não é?") e a seguir à simpática (e normal) pergunta "Como estão os meninos?" sai-se com um "Então e maminhas para eles, há?"
Como já devem ter percebido, o título deste post refere-se à nova condição do corpo da grávida que vem substituir a privacidade, a partir da gravidez. Mas serve também de ligação para um blog que encontrei e que substitui quase na perfeição todos os posts que eu podia ter feito. Vejo-me muito nas palavras desta blogger, que fala destas coisas de estar grávida e ser mãe com o sentido de humor certo. Aconselho a leitura do Joana come a papa porque este tipo de abordagem tornaria as conversas com quase-estranhos no domínio da privacidade muito mais agradáveis (ou pelo menos mais fáceis).
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